O Valor das Coisas

O Valor Das Coisas

Por que será que nós seres humanos damos mais valor às coisas materiais, às aparências e aos prazeres e delícias do corpo material? Na verdade, somos escravos dos cinco sentidos e usamos todos eles por causa de um mestre excessivamente egoísta chamado desejo.

Desejo que põe em movimento a  visão que aguça a nossa curiosidade, como se a faculdade de ver pessoas e coisas à nossa volta, fosse resolver nossos problemas existenciais. Como não fomos educados para ver as coisas apenas para tirarmos lições de vida, nosso desejo nos faz vítimas no sentido de nos apegarmos aos bens materiais e, quanto mais temos, mais acumulamos.

Enquanto a visão atua no campo da futilidade da riqueza corpórea, o paladar e o olfato fazem estragos na área pertinente à saúde do corpo. Não existe mais parcimônia e bom senso na arte de comer. Na maioria dos casos, ingerimos alimentos que são prejudiciais e desnecessários à manutenção e vigor do nosso corpo físico. Por isso, acabamos descobrindo que não é somente os peixes que morrem pela boca.

Quase sempre prestamos atenção a tudo aquilo que está à nossa volta, com objetivos puramente grosseiros: aumentar o nosso poder material, aproveitar as oportunidades no sentido de esgotar as nossas sensações e emoções físicas para gáudio e deleite do nosso ego. A vida é um dom divino e não temos o direito de prejudicá-la e/ou de eliminá-la com atividades perigosas e de risco.

Centenas de milhares de pessoas que não gozam boa saúde, por motivo de doenças, que não podem andar e correr porque o destino lhes foi adverso, não conseguem entender como certas criaturas humanas com a saúde em dia, deliberadamente se intoxicam com alimentação, arriscam a vida estupidamente em atividades esportivas de alto risco.

Quem perdeu a saúde, daria fortunas para recuperá-la; quem a tem, desperdiça insensatamente um bem de valor inestimável. O ser humano inverteu a ordem natural das coisas, por isso, há tanta dor e sofrimento no mundo. Hoje, pouquíssimas pessoas dão valor às coisas puras e simples; o respeito à natureza e aos animais; a leitura a bons livros, porque ler é viajar pelas experiências alheias.

Um breve conto reforçará a fútil busca humana pelas quinquilharias da vida, em troca do saber equilibrado de uma vivência feliz. "Estava ali, abandonado no mato, um brilhante. Bem perto, presa a uma árvore, uma gota de orvalho também brilhava, cintilando sob os raios de sol que a atingiam. Um caracol, ao vê-los, cumprimentou-os: - Bom dia! Vocês são lindos! São parentes, não?

O brilhante ofendeu-se: "Onde já se viu dizer que sou parente de uma simples gota d'água!" Nesse momento desceu do céu uma andorinha sedenta, à procura de água, e, pensando que o brilhante fosse uma gota d'água, bateu o seu bico nele. Ao sentir sua dureza, exclamou: - Oh! Que pena! Pensei ser uma gota d'água para matar minha sede e é só um brilhante que para mim não tem valor algum... Vou morrer de sede. Mas, ao olhar para o lado, percebeu a gota d'água na árvore; aproximou-se dela e saciou sua sede.

Moral da história: muitas vezes não percebemos o real valor das coisas simples, que são vitais, e nos preocupamos em acumular riquezas. Damos mais valor à aparência do que à utilidade das coisas. Passamos nosso tempo correndo atrás de ouro e de brilhantes e esquecemos de contemplar o pôr-do-sol, de correr descalços na grama, de colher o fruto de uma árvore... coisas simples, mas essenciais para nosso equilíbrio como seres humanos".